sexta-feira, 6 de maio de 2011

Assessoria de Imprensa de clubes x Jornalismo Esportivo: o reflexo das assessorias na cobertura esportiva

Assessoria de Imprensa de clubes x Jornalismo Esportivo: o reflexo das assessorias
na cobertura esportiva


RESUMO
O jornalismo esportivo sempre teve uma liberdade de criação maior do que as outras
editorias. Com a globalização, o esporte se tornou um negócio que gera bilhões de
dólares ao ano. Essa entrada de dinheiro, patrocinadores e transformação de atletas em mitos e garotos-propaganda criou novos conceitos no esporte. Com a chegada das
assessorias de imprensa nos clubes e logo depois nos atletas, o jornalismo esportivo teve que recriar uma forma de fazer jornalismo, depois do engessamento e adronização das informações pelos assessores. Essa nova forma diminuiu a reflexão dos fatos e aumentou o humor dentro dos programas esportivos.

PALAVRAS-CHAVE: esporte; jornalismo esportivo; assessoria de imprensa;
entretenimento.

Introdução

O futebol se transformou em um grande negócio no mundo e por movimentar bilhões de dólares por ano está sujeito aos interesses de quem o patrocina. Os atletas passaram a ser grandes garotos-propaganda e servir de modelos para jovens e para a sociedade. Dessa forma, tudo que um grande jogador fala está diretamente ligado ao seu patrocinador e reflete no público que o idolatra.
Com o aumento do poder da mídia, tudo passou a ser controlado por assessores para não “sujar” a imagem da empresa, do clube e do atleta ou colocar notícias que vão enaltecer e valorizar seu assessorado. Esse controle das informações deixou o jornalista esportivo refém das assessorias, de suas coletivas, do pouco tempo deixado para imagens, do tempo escasso para assistir a um treino, a blindagem, instrução e ensaio dos atletas para não se envolverem em polêmicas.
Sendo assim, o jornalismo esportivo que já possuía uma liberdade maior para criar do que as outras editorias começou a direcionar suas matérias para o lado do entretenimento. Novos quadros que mais se parecem com programas de variedades ou humorísticos passaram a rechear os telejornais, deixando a editoria com uma pitada de humor maior do que a investigação e apuração jornalística.

O esporte como negócio

O esporte sempre esteve presente na vida do homem e acompanhou a evolução dos tempos, sendo usado em várias oportunidades pelo Estado e pela política para difundir ideias. Seja na Grécia e na Roma Antiga, ou na Alemanha nazista, o esporte sofreu influência da situação que o mundo se encontrava. O futebol, sendo o esporte mais popular do mundo, foi alvo de exploração de quem detinha o poder na época e queria através dele representar e difundir dogmas. Sua criação e implementação nas fábricas inglesas para disciplinar os funcionários e difundir os nomes das indústrias é um dos vários exemplos que ao longo do tempo marcam o futebol como grande metáfora do mundo moderno.
Com o fim da guerra fria, o mundo passou a ser dominado pela economia. Com essa mudança, o capitalismo se consolidou e a globalização veio para quebrar fronteiras culturais e econômicas. Em um mundo globalizado e sem fronteiras, o futebol também seguiu esse caminho e pôs fim à lei do passe dos jogadores, facilitando suas transferências e fazendo que qualquer clube estrangeiro com poderio econômico elevado, se tornasse uma verdadeira “torre de babel”. Sem contar os naturalizados por outros países, que reforçam a ideia de aldeia global.
Toda essa transformação do mundo aumentou, de forma considerável, o poder da mídia. À medida que a “porta-voz do sistema capitalista” cresceu, todos os seus ramos cresceram da mesma forma, além da criação de outros ramos que vieram deixar essa árvore ainda mais complexa e poderosa. Os sites especializados, a informação em tempo real e recentemente as mídias sociais vieram para consolidar a era da informação.

“A modernização da sociedade trouxe ao ser humano a necessidade de obter cada vez mais informação, o que, em larga escala, levou ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. Essa situação, por sua vez, fez com que indivíduos e organizações passassem a vislumbrar no noticiário transmitido por jornais, revistas, emissoras de rádio, de televisão e na rede mundial de computadores a sua grande possibilidade de divulgar fatos e opiniões para a sociedade. Para intermediar e aprimorar esse processo, surgiu a Assessoria de Imprensa que, apesar de o nome sugerir, não está a serviço da imprensa mas faz o contato a partir da empresa e se relaciona permanentemente com ela.” (CHINEM, 2003)

A assessoria sempre foi exclusiva de altos cargos nacionais como presidente da república e governadores. Mas com o crescimento da mídia e o entendimento de que qualquer coisa falada sobre uma empresa ou pessoa importante pode ser ruim ou boa para os negócios, o assessor de imprensa tanto das empresas quanto das pessoas passou a ser um braço forte dentro de uma corporação. Estratégias de comunicação passaram a ser criadas, planos de emergência e comunicação interna dentro das empresas, tudo isso reforçando o poder da comunicação dentro dos negócios.
“A partir do fim dos anos 1970, empresas, entidades oficiais e particulares, banqueiros e empresários descobriram que, devido ao mundo cada vez mais complexo, o assessor de imprensa era figura importante necessária. Desde então, a atividade vem se profissionalizando e ganhando outra dimensão de trabalho.” (CHINEM, 2003)

O futebol não ficou de fora dessas mudanças. O esporte se tornou negócio e o futebol também, movimentando, de acordo com dados de 2005, 250 bilhões de dólares por ano.(HILÁRIO,2007). Um negócio de grande valor que passou a ser mais explorado pelos meios de comunicação de massa. Esse casamento mídia e esporte trouxe alguns fatores que feriram a máxima do Barão Pierre de Coubertin: o importante é competir. Gol, momento máximo do futebol, que também foi alterado pelos negócios quando se proíbe o jogador de tirar a camisa ou simplesmente colocá-la sobre a cabeça escondendo o patrocinador, infração grave que deve ser punida com cartão amarelo, tirando totalmente a espontaneidade na comemoração do momento mais bonito do esporte em favor dos negócios.
“A mídia necessita – para seus objetivos comerciais, editoriais e de programações – da audiência de campeonatos fortes como espetáculo e de atletas carismáticos como seus personagens reais, os mitos, para alimentarem a avidez de consumo do esporte pela população, em qualquer classe social e em qualquer tempo.” (FARDO, 2005, p. 1)

A mídia, cada vez mais, influencia o espetáculo esportivo. Antes, um torcedor precisava ir até à banca de jornal ou ir ao estádio para saber o resultado do jogo. Com o rádio, depois a televisão e hoje a internet, ele não precisa sair de casa para acompanhar seu esporte preferido. A televisão procura o tempo todo espetacularizar suas imagens para vendê-las e não é diferente com o esporte. Dessa forma o esporte passou a ser uma mercadoria e se tornou um show de entretenimento. O aumento da cobertura da mídia no esporte também trouxe mais dinheiro para as competições. João Havelange ao assumir a FIFA em 1973 afirmou: “Vim para vender um produto chamado futebol” e vendeu. Os Jogos Olímpicos tiveram mais visibilidade e repercussão com a cobertura televisiva em Los Angeles 1984. Com a indústria do esporte consolidada e forte, a mídia passou a controlar as competições esportivas influenciando até nas regras e regulamento de competições. Grandes exemplos são o basquete, vôlei e futebol.

“...o Presidente do Comitê Olímpico Internacional COI, Marques Juan Antônio Samaranch ressaltou que os esportes que não se adaptarem à televisão estarão fadados ao desaparecimento. Da mesma forma, as televisões que não souberem buscar acesso aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso financeiro e de público.” (NUZMANN, 1996:15)

Com isso, associar sua marca a um atleta ou a um clube se tornou lucrativo e vantajoso. Nessa era em que a informação é importantíssima e que o futebol movimenta bilhões de dólares passamos a ter uma união perversa entre os interesses econômicos e o que a mídia passou a divulgar. Se nas décadas de 60, 70 e início dos anos 80 o jogador não tinha seu próprio patrocinador, jogava a carreira inteira em um clube e se identificava com ele, e era entrevistado em qualquer local do clube ou do vestiário, não podemos constatar o mesmo fato na realidade esportiva de hoje. Este fato é o objetivo maior deste artigo. Um simples atleta que acabou de ser lançado aos profissionais e tem futuro promissor já tem seu assessor de imprensa, seu empresário, o assessor do clube, seu próprio patrocinador e o clube, todos cuidando de seus interesses e não deixando nada sujar a sua imagem que está sendo construída nos meios de comunicação. O patrocinador não quer ver seu garoto-propaganda sendo manchete de escândalos e páginas policias, mais do que sujar a imagem do atleta, fere os negócios da empresa que o patrocina.
E essa grande mídia vende a ideia do sucesso a qualquer custo, de que somente o vencedor tem a glória e a fama, criando mitos e atletas que vão servir de exemplos e serão ídolos de gerações. Dessa forma, os jogadores passaram a ser treinados pelas assessorias para falarem e darem as entrevistas que cada vez mais são difíceis de acontecer sem ser de forma coletiva. Um meio de comunicação de pequeno porte raramente consegue uma exclusiva com os grandes atletas e se contentam em fazer uma pergunta para o grande ídolo quando ele é escolhido para comparecer à sala de imprensa dos clubes.
Essa blindagem dos ídolos pode ser explicada, como os assessores gostam, pelo grande número de jornalistas e veículos que cobrem os grandes clubes do Brasil hoje em dia. Se um atleta ficasse o dia todo para responder a todos os jornalistas não teria tempo para treino. Bem diferente do que era no passado. Antigamente os jornalistas tinham livre acesso aos clubes, aos vestiários e entrevistavam quem eles queriam entrevistar e, principalmente, perguntavam o que se deve perguntar sem medo de represálias. O argumento das assessorias não é entendido pelos jornalistas que vêem seu direito de buscar informações dentro do clube cerceado e aí começam a aparecer os privilégios e tratamentos diferenciados a emissoras que conseguem informações que outras não conseguem. Algumas empresas de comunicação pagam a mais para ter posições privilegiadas dentro dos clubes.
Outro ponto é a mudança dos meios de comunicação de hoje. Se antes tínhamos os jornais com um caráter mais crítico e seus proprietários eram grandes homens de imprensa, hoje temos grandes corporações que compram esses veículos, que são sustentados pelos patrocinadores e anunciantes, ficando reféns de seus interesses e de suas reivindicações.
A transformação do futebol em negócio e a importância da mídia podem ser constatadas nas salas de imprensa. Se um clube tem uma boa sala de imprensa sua estrutura já passa a ser elogiada, sendo que lá não é local de treino dos atletas, mas é o local onde eles vão falar com a imprensa. Sendo um péssimo local e sem acomodações necessárias já não será bem visto pelos meios de comunicação. As marcas que patrocinam o clube ficam no fundo enquanto os atletas falam. Com o tempo algumas emissoras começaram a fazer uma imagem mais fechada, quase um close para não mostrar os patrocinadores. A resposta das assessorias e dos departamentos de marketing foi colocar os patrocinadores na haste que segura o microfone, começando um jogo de gato e rato onde os assessores vão tentar mostrar os anunciantes e as empresas de comunicação escondê-los. Se o jogador não estiver no local de entrevistas, não pode falar de maneira alguma, sendo multado se o fizer, inclusive se a entrevista for para o rádio.
Antigamente o jornalista chegava para trabalhar no clube, acompanhava todo o treino, tinha acesso a todos os jogadores e nos dias de jogos entrava nos vestiários muitas vezes interrompendo até o banho dos jogadores. São várias as cenas de antigos videotapes que os jornalistas invadiam o campo ou seguiam atrás do jogador que fazia o gol para obter uma declaração.
É claro que o papel das assessorias tornou mais organizada a participação da imprensa no futebol, mas trouxe vários efeitos colaterais. A informação dita pelo assessor é a versão do clube que não pode ser tido como a única. Enquanto o jornalismo trata de assuntos de interesse público, a assessoria vai tratar de assuntos de interesse do assessorado. E essa guerra mudou o modo de se fazer jornalismo esportivo.

O jornalismo entretenimento

O jornalismo esportivo não ficou de fora das mudanças na mídia. Passou a sofrer com o enxugamento da redação, com as pressões dos patrocinadores do veículo, o salário cada vez mais defasado e o acúmulo de funções. E, no mundo de competição, os jornais também disputam quem vai conseguir a informação em primeira mão, uma entrevista exclusiva com o craque. A pressão da redação e do chefe para como se diz: “matar um leão por dia” existe, mas como matar esse leão se os jogadores falam as mesmas coisas, treinados pelos assessores, e todos os veículos tem a mesma informação, já que a coletiva foi igual para todos e as imagens do treino também?
Sendo assim, o jornalista setorista fica cada vez mais refém da sua amizade com os atletas, dirigentes, empresários para conseguir informações que vão resultar em boas matérias ou furos jornalísticos. O que de um lado o deixa próximo do atleta, também o deixa refém, em muitos casos, de troca de favores e matérias plantadas. Infelizmente alguns jornalistas se rendem a essa “uma mão lava a outra” e aceitam falar de possíveis contratações com o fim de aumentar o salário do atleta ou ainda, esconder situações para num momento à frente receber algum furo ou ter uma exclusiva. E o que é pior: ao criticar o atleta corre o risco de não ter mais as informações que necessita para trabalhar, pois não são poucos os jogadores, empresários e até assessores de imprensa que retaliam jornalistas que segundo eles “falaram mal de seus atletas”. À medida que a amizade do jornalista aumenta com o jogador ele corre o risco de seu senso crítico sobre o atleta diminuir. Essas relações baseadas na amizade dentro do jornalismo não são exclusivas no esporte, na política também constatamos essas relações.
Já que as notícias foram as mesmas para todos, o vestiário está fechado e a assessoria mais atua como um zagueiro tentando evitar que o jornalista não faça o que será ruim para seu assessorado, ele não pode exercer sua investigação para sua pauta. Surgiram, então, as matérias entretenimento, onde a forma começa a valer mais que o conteúdo, e a notícia realmente não aparece e sim fatos superficiais que nada tem a ver com o esporte e sim com o entretenimento. O que faz um atleta nas horas de folga? O que ele come? Que roupa usa? Qual seu corte de cabelo? Transformam os atletas em celebridades e a matéria com uma pitada se sobrepõe à reflexão.
Vamos analisar o caso do quadro Inacreditável Futebol Clube. É um quadro totalmente de entretenimento dentro de um programa que deveria ser jornalístico. O engessamento das informações divulgadas por assessorias estavam tornando as reportagens repetitivas. E o esporte, diferente de todas as outras editorias, que sempre teve uma linha editorial mais livre dentro de uma redação desde a época de Nélson Rodrigues e Mário Filho, passou a mudar seu jeito de fazer jornalismo.
Inspirados no sucesso do modo diferente e brincalhão de Thiago Leifert apresentar e fazer o Globo Esporte de São Paulo, e de Tadeu Schimdt mostrar os gols da rodada com “outro olhar” dentro do Fantástico, a Rede Globo inaugurou o quadro. Ele consiste em mostrar lances de gols perdidos por todo o Brasil. O quadro ganhou uma vinheta narrada pelo locutor Léo Batista e virou um bordão falado por todos os amantes do futebol pelo país. O quadro fez tanto sucesso que o autor do lance improvável agora ganha uma camisa do time e recebe a coroa do “rei” da atração. A entrega é regada a muito humor e o próprio atleta incorpora seu erro, já vendo, possivelmente, alertado pelo seu assessor que até uma exposição deste tipo se torna válida se ele levar, digamos, na “esportiva”. Foi o caso do atacante Otacílio Neto que ao receber a primeira vez se recusou e foi irônico com o repórter, indagando se ele pagaria seu salário na equipe do Inacreditável Futebol Clube e não vestiu a camisa. Alguns dias depois chamou a equipe de reportagem e vestiu a camisa.
O quadro vai ganhando novos participantes a cada final de semana e a emissora, já percebendo o potencial publicitário do quadro, colocou a votação de quem será o novo rei em seu site na internet. Até um lance ruim, mal feito e perdido, agora pode virar exposição para o atleta. O que pode demonstrar isso é outro quadro de também grande sucesso da mesma emissora, o “Bola Cheia e Bola Murcha”. Também carregado de humor, o quadro recebe milhares de vídeo por mês de pessoas comuns que querem aparecer na parte esportiva de um dos principais programas da emissora.
Inspirados nesse sucesso do humor do apresentador do Globo Esporte São Paulo, Thiago Leifert, o programa fez no dia 1° de abril uma especial em “homenagem” ao dia da mentira. O início do programa resgatou o formato do apresentador de terno sentado em uma bancada, apresentando o telejornal “à moda antiga”. Detalhe que foi o próprio jornalismo esportivo um dos pioneiros de uma apresentação de telejornal mais solta e mais informal. O apresentador frisa que o programa era de 1° de abril e já começa com manchetes de duplo sentido com um tom totalmente humorístico. A primeira matéria é de um esporte que mistura a canoagem com pólo aquático o chamado São Polo. O repórter usa a ironia para mostrar este esporte pouco conhecido e o tom formal é claro na reportagem. Na segunda reportagem o próprio apresentador não aguenta e cai na gargalhada ao anunciar uma reportagem sobre o Corinthians, mas não o paulista e sim o de Alagoas. A terceira matéria é do mesmo tipo, mostrando as notícias do Palmeira do Rio Grande do Norte, ao invés do Palmeiras de São Paulo.
O segundo bloco começa com uma série de situações de mentira e simulações no futebol, algumas famosas como a do goleiro Rojas no Maracanã, Rivaldo fingindo levar uma bolada no rosto na estreia do Brasil na Copa de 2002 e a “mão de deus” de Maradona na Copa de 1986 contra a Inglaterra. Todas elas anunciadas mais uma vez como especial do dia da mentira do programa. O segundo VT do segundo bloco, finalmente, fala de algo factual e jornalístico, são os gols dos jogos da Copa do Brasil do dia anterior. Mas no jogo Guarani e Novo Horizonte do Ceará, o humor na locução foi mais evidente e com um lance, do já comentado “Inacreditável Futebol Clube”. Logo após, uma nova matéria de um outro Corinthians, dessa vez do Paraná e o apresentador não consegue sustentar o tom sério e acaba mesmo sentado na bancada, de terno, fazendo brincadeiras com a equipe técnica.
O terceiro bloco é aberto com o resultado da enquete sobre o treinador do Juventus de São Paulo; o apresentador ironiza dizendo que a enquete contabilizava até aquele momento 150 votos. Thiago chama o repórter para falar do grande clássico da rodada, que seria Palmeiras e Santos, mas surpreende afirmando que o jogo mais esperado é São Caetano e São Bernardo e o repórter de terno e tom irônico, afirma que o jogo é o primeiro entre os dois clubes. Ao chamar os gols da rodada, Leifert mostra gols de uma pelada masculina e feminina sempre em o tom humorístico. E no final, a despedida do programa é feita com imagens de títulos do Corinthians, a vinheta de campeão e com o apresentador parabenizando o clube pelo aniversário de título da Taça Libertadores da América, o que o clube nunca conquistou e provocou reações dos rivais e dos corinthianos em toda internet.
Seguindo a mesma linha a Globo Minas usa de matérias carregadas de humor para preencher sua programação local. Como vimos anteriormente, as informações são as mesmas para todos e alguns treinadores ainda fecham o treino para imprensa. Sem imagens do treino o repórter tem apenas a coletiva de imprensa e as imagens de um rachão ou de uma breve corrida em torno do gramado para fazer seu trabalho. Como grande parte do jornal é dedicada aos principais clubes do Estado: Cruzeiro e Atlético-MG, o que fazer para encher o jornal com matérias?
A solução escolhida é a do entretenimento. Começa a se fazer matérias na casa do jogador, mostrando seu guarda-roupas, o que ele veste no dia a dia, qual seu estilo musical favorito. Isso realmente interessa ao telespectador? Pode até interessar a algumas pessoas, mas isso não é função do jornalismo esportivo. Os jornais e a internet em alguns casos não ficam longe dessa linha cômica no esporte com manchetes que usam o humor e às vezes o grotesco para chamar a atenção do público. Mas o que o jornalista deve fazer se ele tem tempo para entregar a matéria, precisa de fazê-la e não consegue as informações e acesso ao clube facilmente como há tempos atrás?

Considerações Finais

O jornalismo vai se adaptando ao mundo moderno e sempre se renova. As condições de trabalho, infelizmente, ainda não são as melhores e a remuneração em vários casos deixa muito a desejar. A pressão das chefias de redação para o que deve e o que não deve ser divulgado entra em conflito com os interesses do jornal e com a ética do profissional. As assessorias fecham as portas para a imprensa quando um grande escândalo acontece, mas quer o apoio dos jornais quando seu assessorado está bem e ao mesmo tempo o jornalista precisa desse assessor pois o jogador cada vez mais é menos acessível.
A falta de informações ou não poder dá-las e a obrigação de fechar um jornal levou o Jornalismo Esportivo a explorar mais o lado do entretenimento do que de reflexão. Os programas e matérias com a veia mais cômica são válidos e devem existir, mas não somente eles, o que é o caminho que se desenha no Jornalismo Esportivo. A crítica precisa existir, a informação precisa ser dada e não podemos encarar tudo como piada.
O que observamos é que o humor passou a ser obrigatório nos programas de televisão esportivos, muitas vezes deixando de lado a informação que o telespectador quer saber. Qualquer tipo de matéria possui um lado cômico, na busca pelo diferencial do meio de comunicação. Surgem quadros mais para entreter do que para mostrar fundo o que acontece nos bastidores de um clube. Passamos a assistir gols inacreditavelmente perdidos que tornam os autores das façanhas celebridades, bolas cheias ou bolas murchas por todo o Brasil e não sabemos o que acontece nos bastidores da CBF na organização da Copa.

REFERÊNCIAS


CHÍNEM,Rivaldo.Assessoria de Imprensa: como fazer. São Paulo: Summus, 2003.

FARDO, José Antônio. A comunicação via esporte: uma reflexão crítica sobre mídia e poder. Pluricom. Com .br , 2005

HELAL, Ronaldo. Mídia, ídolos e heróis do futebol. Rio de Janeiro: UERJ, 2001

HILÁRIO, Franco Júnior. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São Paulo: Companhia das letras, 2007.

KENSKI, Vani Moreira. O impacto da mídia e das novas tecnologias de comunicação na Educação Física. Motriz, v-1, n°2, p.129-36,1995

MARQUES, José Carlos; CARVALHO, Sérgio; CAMARGO, Vera Regina Toledo, organização. Comunicação e esporte – tendências. Santa Maria: Palotti, 2005.

NUZMANN, Carlos Artur. A importância do marketing esportivo no esporte. Seminário INDESP de Marketing Esportivo. Ouro Preto: INDESP, 1996.

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