sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Como nos tornamos o país da Copa do Mundo

O Brasil é o país da Copa do Mundo. Aqui todo mundo se prepara para o maior evento esportivo do planeta: ruas pintadas e enfeitadas, bandeiras, um nacionalismo exacerbado contagia o povo brasileiro. O comércio fecha as portas, dia de jogo da seleção é feriado nacional. Mas nem sempre foi assim. Nas duas primeiras Copas o Brasil não foi bem. Na terceira, em 1938, ficou entre os primeiros e com o artilheiro da Copa: Leônidas da Silva, o diamante negro. Com a Segunda Guerra Mundial, a Copa voltou a ser disputada somente em 1950, no Brasil. O “expresso da vitória” era o grande favorito, mas perdeu para o Uruguai no Maracanã. A derrota foi tão sentida pelo povo brasileiro que até o uniforme da seleção foi trocado: de branco passou a ser amarelo, após uma escolha popular. Em 1954, o Brasil vinha muito bem, até enfrentar a poderosa Hungria de Puskas e cia e perder a “batalha de Berna”.
Os brasileiros, apesar de amarem o futebol, achavam que a Copa tinha sido feita para o Brasil perder. Achavam que tínhamos os melhores jogadores mas na hora da decisão ficávamos com medo. Era o “complexo de vira-lata” do povo brasileiro que Nelson Rodrigues tanto falava. Foi preciso então os dois maiores jogadores que o futebol mundial já produziu: o maior fenômeno de todos, Garrincha, e o mais famoso de todos, Pelé.
A Copa era a de 1958 na Suécia. Os dois não jogaram os dois primeiros jogos. O Brasil venceu a Áustria e empatou com a Inglaterra. O último jogo da primeira fase seria contra a URSS, o “futebol científico”, atual campeão olímpico era temido pelo mundo inteiro. O Brasil precisava da vitória, senão voltaria para a casa. Os pessimistas de plantão já davam como certa a derrota. Mas com Pelé e Garrincha em campo o povo brasileiro passou a acreditar em uma Copa do Mundo, a perceber que ela tina sido criada para o Brasil, para a festa da torcida brasileira. Para a consagração do maior futebol do mundo. Foi um baile de Garrincha, que driblou todos os jogadores da URSS ao menos uma vez no jogo e desmontou a defesa russa. O Brasil virou uma festa. Escolas de samba foram para as ruas, carreatas foram feitas, fogos de artifícios estourados. O futebol arte venceu o científico. O sonho de vencer uma Copa do Mundo que fora enterrado em 1950, ressurgiu. A festa continuou com as outras três vitórias do Brasil e com o primeiro título mundial.
Lá se vão quase 50 anos e onze copas do mundo, quatro vencidas pelo Brasil e Garrincha, não por acaso a “alegria do povo”, ensinou ao povo brasileiro a esquecer suas tristezas, seus tantos motivos para chorar e parar diante do rádio e depois da televisão e acompanhar o Brasil que dá certo e sentir orgulho de ser brasileiro, cantar o hino, vestir verde amarelo sem medo. Um menino de pernas tortas e uma geração fantástica de Pelé, Nilton Santos e Didi, transformaram o Brasil no país da Copa do Mundo.